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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

CLODOVIL, INIMIGO DE SI MESMO...


Devo dizer, antes de mais nada, que fui uma das apoiadoras da
contratação de Clodovil pela RedeTV!. Eu o achava inteligente,
engraçado e polêmico, mas conviver com ele foi uma experiência
triste. Agredir, humilhar e desdenhar das pessoas paracia ser seu 
modo de vida.
Logo que foi contratado, eu o entrevistei para o meu programa.
Muito emocionado, Clodovil me contou que seus cachorros
tinham leishmaniose, que é uma zoonose perigosa para os 
humanos. Na época, e ainda hoje em nosso país, muitos 
cachorros são sacrificados depois de terem sido picados pelo 
mosquito que transmite a doença. Clodovil se recusava a matar  
os seus peludos e é óbvio que  conquistou a minha simpatia com 
essa atitude. Importante ressaltar que na maioria dos países não
se sacrificam os animais que têm leishmaniose, eles são tratados.

Acontece que o Clodovil era imprevisível e muitas vezes se 
tornava agressivo com quem estava ao seu redor. Deu uma 
festa de aniversário na sua famosa mansão em Ubatuba,
litoral de São Paulo. Convidou todo o elenco e a direção da
emissora, e quase ninguém compareceu. Mas eu fui. Viajei
três horas para ir ao aniversário dele. Quando cheguei lá, ele
descontou em mim toda a sua decepção com a ausência dos
demais. Me tratou mal, foi extremamente grosso e mal-educado.
Não fiquei nem meia hora na festa. Depois de mais uma 
humilhação, decidi ir embora, mesmo tendo que viajar mais
três horas para voltar para a casa.

No dia seguinte, ao vivo em seu programa, reclamou dos 
diretores da emissora, entre ele o meu então namorado.
Estava indignado por não terem ido à festa e por terem lhe
dado uma caneta, que era uma daquelas caríssimas, uma
 Montblanc, de gente chic, mas ele detestou e esbravejou
 no ar. E não eram só os patrões que ele xingava em seus 
programas. Todos os dias sua insatisfação sobrava para 
alguém. Lembro-me do meu ex-namorado, vermelho de tão
nervoso, gritando ao telefone, depois que  Clodovil tinha
xingado a Luciana Gimenez no ar. Além de uma das mais
conhecidas apresentadoras da casa, ela era a namorada do 
vice-presidente da emissora. Do meu camarim, cheguei a
ouvir Clodovil e Luciana discutindo algumas vezes no 
corredor. E ele não parava... Todo dia era alguma confusão
por conta de sua língua afiada e maldosa. Marta Suplicy,
na época prefeita de São Paulo, foi uma das agredidas.
Clodovil a chamou de "idiota", inútil", "desocupada" e 
"perua que deu sorte". Logo em seguida, Clodovil xingou
de ladrão, ao vivo em seu programa, o dono da rede
Bandeirantes de Televisão. Depois desses episódios, o meu
ex-namorado decidiu que o programa dele não seria mais
exibido ao vivo, e ainda alertaram Clodovil de que da 
próxima vez que fizesse algo do tipo seria demitido. E claro,
não demorou nada para surgir uma próxima vítima.
 Fui eu.

Era janeiro de 2005, eu me maquiava no quarto do hotel
Casagrande, no Guarujá. Durante a temporada de verão,
os programas da RedeTV! eram transmitidos diretamente
da praia daquele balneário. Recebi um telefonema de uma
amiga que me contou a confusão que tinha acabado de a
acontecer durante a gravação do programa do Clodovil.
" A Luísa Mell vai ser a nova Rita Cadillac. Quando ficar
 velha, só lhe restará ser estrela de filme pornográfico", 
disse Clodovil na gravação de seu programa. Logo em 
seguida, recebi um telefonema de meu então namorado,
que estava nos Estados Unidos. Enlouquecido, ele estava
disposto a demitir Clodovil. "Ele não respeita ninguém, 
não tem limites, não tem educação. Os patrocinadores
estão se recusando a continuar no programa depois de
suas confusões diárias e públicas. E eu não vou ficar
pagando salário para ele ficar agredindo as pessoas,
muito menos você". Assim Clodovil saiu da RedeTV!.
Mas permaneceu na minha vida.

Nos primeiros meses após a sua demissão, ele me 
xingava aos quatro ventos. Sobrou para mim a sua
fúria ao ser demitido. Se já me xingava e agredia sem
motivo algum, imagine com um motivo? Ele sabia ser
cruel, e a mídia adora grandes confusões entre famosos.
Fiquei no olho do furacão por meses. 
Clodovil ficou doente. Eu soube pela impressa que ele
estava com câncer na próstata. E foi no teatro Frei Caneca,
em São Paulo, onde eu me apresentava como Cinderela
em uma peça que me deu muitas alegrias, que nos
reencontramos. Quase não acreditei quando, depois do
espetáculo, me disseram que ele estava na platéia e
queria falar comigo. Eu o atendi.

Ele, muito abatido, me contou que estava doente.
_ Não quero levar essa culpa. Eu não tinha nada que brigar
com você, Luísa. Às vezes a gente erra, me desculpe.
Eu o desculpei, claro. Nos abraçamos. Tiramos fotos.
Pedi o endereço dele para mandar livros de cabala.
Ele me deu dicas para comprar uns apliques de cabelo.
Foi a última vez que nos vimos. Logo depois, ele desmentiu
a notícia na mídia. Falou que não pediu desculpas nada, e 
que não foi à peça na qual eu fazia a protagonista por 
minha causa. Disse ainda que eu inventei essa históra
para aparecer. Mesma assim, eu mandei os livros.
Não dava para levar o Clodovil a sério. Ele mesmo era
o seu maior inimigo.



Nota: Gostaria de ressaltar meu carinho e respeito pela
Rita Cadillac. Cada um tem o seu caminho, seus desafios,
dores e amores. Rita não teve uma vida fácil e sempre foi
uma guerreira. Com as pedras que jogaram nela, construiu
o seu castelo. Anos depois da declaração de Clodovil, 
descobri que nós temos realmente muita coisa em comum.

CLODOVIL, um capítulo à parte na biografia da Luísa Mell:
COMO OS ANIMAIS SALVARAM A MINHA VIDA.

Danian Dare

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