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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CLODOVIL, PORÉM HÁ AQUELES QUE BUSCAM A VERDADE.






Anônimo disse...
Muito Tempo há que a Mentira se Tem Posto em Pés de Verdade afinal os mortos não falam


PORÉM HÁ AQUELES QUE BUSCAM A VERDADE.


Lendo esse relato, há uns 2 anos atrás, cheguei a duvidar da veracidade da história. Havia gostado de conhecer mais uma história sobre a complexa dimensão humana de Clodovil feita pelo Cláudio Nóvoa. Que ajuda a reconstruir a memória de nosso costureiro maior. Porém, algo comprometia a veracidade da história, a foto de Clodovil sentado no colo de Dener nas páginas da revista Manchete, e isso quando o nosso amigo Cláudio tinha seus sete a oito anos. Todo o texto me parecia correto e bem descrito, porém a história da foto não correspondia com a realidade, o que acabava por levar-me a duvidar de toda a história. Mas consegui localizar uma foto, não sei se é a qual ele se refere. Mas é, talvez, a única que se tem de Clodovil sentado no colo de Dener. E esse Clodovil era mesmo um abusado, depois de abusar do colo da Regina Marcondes Ferraz, abusa também do colo do seu intitulado rival, Dener. A foto foi publicada no final do ano de 1976, e segundo a publicação, Clodovil passou boa parte da noite sentado no colo de Dener. Isso num evento em que vários costureiros se reuníram na casa de Dener na tentativa de se criar uma câmara de alta costura no Brasil. Tentativa essa frustrada, pois segundo Clodovil, logo após virarem as costas, todos falavam mal uns dos outros. Não sei se o Cláudio se equivocou com onde e em que época a foto foi publicada, ou se quis usar de certa construção de um tempo para ilustrar o seu relato. De forma de evidenciar que desde criança Clodovil era uma personalidade conhecida e presente no cenário nacional.


O CLODOVIL QUE EU CONHECI

A primeira vez que eu vi a figura de CLODOVIL HERNANDES,eu tinha uns sete, oito anos.Ao folhear uma revista "Manchete", topei com uma foto do Clô sentado no colo do também ícone da moda DENNER PAMPLONA DE ABREU. Minha tia ELZA, costureira nota 10, explicou que eles eram rivais na moda brasileira, que não se suportavam, e etc. E eu pensei: "Mas como, se um tá no colo do outro?" Contei certa vez essa história ao próprio Clô. Ele riu bastante, e esclareceu que ele e o Denner eram muito amigos, e que alimentavam essa história de rivais só pra aparecerem nas revistas, nos jornais. A palavra marketing, nos anos 60, ainda não tinha a força e a intenção de hoje. Adolescente, entrei de penetra em vários desfiles seus. Sempre entendi as suas criações como obras de arte comparáveis às de Valentino, Saint-Laurent,Rabanne, Lacroix e Lagerfeld. As cores, os detalhes, o caimento e acabamentos perfeitos das roupas sempre me fascinaram. Acompanhei sua carreira televisiva desde sempre, tinha a certeza de que por baixo da capa de frescura do ar blasé e da língua afiada, estava um cara inteligentíssimo, dono de um raciocínio dos mais rápidos, culto e absolutamente verdadeiro.Quando minha grande amizade com o diretor de teatro e tv FRANCISCO AZEVEDO/KIKO, no começo dos 80 apenas se iniciava, ele era o diretor do grande sucesso do teatro "Seda Pura e Alfinetadas", texto feito sob medida para Clodovil mostrar que, além de estilista e apresentador de tv, ele era um ótimo ator!
O Francisco foi a única pessoa que eu vi que conseguia gritar mais, se impor mais e fazer o Clô baixar o tom e ficar quieto, no público e no privado. Ele respeitava muito, e tinha uma profunda admiração pelo Francisco.
Nessa época, por ter brigado com MARILIA GABRIELA e MARTA SUPLICY, suas companheiras de programa, acabou deixando o enorme sucesso das manhãs da Globo - TV MULHER -. E não tardou a receber convite da Band para um show só seu, e noturno. Foi por esses dias que eu o conheci pessoalmente, todo vestido de preto, sentado no chão da sala do Kiko, com um gravadorzinho na mão que reproduzia as conversas que ele tinha tido na Band naquela tarde. Quieto, receoso. Parecia mais um menino assustado do que o estilista e apresentador famoso.
Observador e sincero contumaz. Eu tinha um problema dentário, ele percebeu, falou que eu era bonito e educado demais para ter dentes tão feios, e chegou a me indicar o seu dentista! O programa na Band, com direção geral do Kiko, foi um enorme sucesso. Tinha a cara do apresentador: inteligente, chique, bonito de se ver, com ótimos números musicais e excelentes entrevistas. O programa atual do RONNIE VON na Gazeta nada mais é do que uma cópia, sem o glamour, sem o charme e sem a presença magnética que o Clô tinha na telinha. Foram os dias em que eu mais convivi com ele. Após as gravações, sempre tinha um jantar, uma boa conversa, ótimas indicações de livros e filmes. Chegou certa noite - horário tardio e já sem ônibus nas ruas - a me trazer em casa. Noutra, parou seu jaguar em plena Avenida Rebouças, desceu, fez sinal para um táxi e me enfiou lá dentro. Um cavalheiro, um gentleman. Quando o Francisco, eu e vários abnegados fundamos um grupo de teatro amador, Clodovil doou todos os figurinos da peça "Seda Pura...", mais uma grande quantidade de criações suas para os nossos espetáculos. Foi uma grande emoção poder vestir calças e camisas da sua grife no palco. Passei alguns anos morando no interior, falava com o Kiko muito raramente, e com o Clô mais raramente ainda. Quando voltei, ele e o Kiko estavam meio afastados, por divergências que agora não cabem. O Kiko já tinha sido diagnosticado como doente renal crônico e não tinha a mobilidade de antes. Mas isso não impediu Clô de chamar novamente seu grande amigo para dirigi-lo no programa "A Tarde é Sua", na REDETV! Passei a revê-lo, o Clô estava numa fase não muito boa, financeira e pessoal. Sua passagem pelo programa não durou muito. Sua língua afiada tirou-lhe o trabalho, mais uma vez. O Kiko recolheu-se, passava todo o tempo em casa, Clodovil convidou-o para dirigir uma nova peça, Francisco não aceitou. Foi o último espetáculo de Clodovil. "Elas por Ele" era um espetáculo simples, mas visualmente impactante, onde Clô personificava divas como CARMEN MIRANDA e JOSEPHINE BACKER. Eu, Kiko e Chaplin fomos ver a peça. O talento estava lá no palco, figurinos excelentes,mas a direção era muito ruim. No meio da apresentação, Clodovil avistou o Kiko na platéia, parou tudo, e disse: "Se eu tenho gosto pelo teatro, se eu sou disciplinado e tenho meu talento lapidado, devo tudo ao diretor que mais me dirigiu, que me ensinou tudo o que sei de teatro,e que está aqui na platéia hoje. Por favor, peço palmas para o MEU DIRETOR, FRANCISCO AZEVEDO".
O teatro, quase lotado, aplaudiu muito. E o Kiko chorou muito.
Após o espetáculo, os dois ficaram falando por mais de uma hora. O Kiko listando tudo o que ele achou de errado. O Clô, sentado à frente, ouvindo tudo, muito quieto, sem questionar nada. E eu e o Chaplin ao lado, como testemunhas desse momento tão bonito.
Foi a última vez que eu o vi pessoalmente. Quando o Francisco foi internado - e logo morreu, era por mim que ele recebia notícias. Foi por mim que ele recebeu a notícia da morte do Francisco.
Tenho um amigo que responde pela emergência bucomaxifacial do Hospital do Mandaqui. Mais de 90% das vítimas são motoqueiros, a maioria com fraturas de maxilar por não usarem capacetes que preservem a mandíbula. Pensei então que uma Lei Federal obrigando o uso do capacete com protetor de mandíbula reduziria drasticamente o número de vítimas. Telefonei para o gabinete do Deputado Clodovil em Brasília, deixei recado e após 40 minutos, ele retornou. Ficamos mais de duas horas ao telefone, lembranças do Kiko a nos confortar. Achou o projeto muito interessante., e marcamos uma conversa pessoal, aqui em Sampa, para a próxima segunda, dia 16 de março.
O Kiko não chegou a vivenciar a aventura de Clodovil pela política, os 500 mil votos recebidos, os dois primeiros avcs, o câncer de próstata, os 23 projetos apresentados - nenhum ainda votado -.
Devem estar agora, os dois, colocando as conversas em dia, tendo como testemunha as mães, que eles amaram tanto e que já partiram há vários anos.
A mim, só me resta agradecer a ótima companhia, o humor sarcástico, a inteligência, cultura e carinho da minha pouca convivência com uma das maiores cabeças pensantes que esse pais já teve.

Clô, fique com Deus.

Muito obrigado.
Escrito por Cláudio Nóvoa
Blog do Klau




Danian.


Um comentário:

Jôka P. disse...

Lindo e super chique o seu blog!
Eu também adorava o Clodovil, um ser extraordináriamente talentoso, inteligente e elegante, que faz muita falta!