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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CLODOVIL, A SENSATEZ DE UM INSENSATO.



Ano de 1971, Clodovil em seu escritório, no seu recém inaugurado atelier na rua Oscar Freire. Lá, onde ele atendia sua clientela exclusiva, também era palco de seu programa matinal na rádio Jovem Pan. Clodovil dava conselhos a milhares de ouvintes sobre moda, o programa tinha duração de cinco minutos, com grande audiência. Esse programa de rádio serviu, de certa forma, para Clodovil se exercitar perante inúmeros ouvintes para que 9 anos mais tarde atuasse à frente do programa TV Mulher. Foi para ele um certo protótipo do que seria o seu sucesso no programa matutino da Rede Globo. Clodovil, tido como insensato por muitos, aquele que perdera os sentidos no jogo das razões, surpreendia-nos várias vezes com observações de grande sensatez. Com razão de causa, suas posições em relação a vários fatos sustentávam-se pela coerência de suas observações. Tendo como bagagem de vida, experiências as mais diversas em diversos meios sociais, desenvolveu um senso crítico próprio, aliado a sua capacidade de observação e uma certa dose de prepotência, necessária, para poder ser impor. Na complexidade do seu ser, onde o equilíbrio emocional oscilava o sentido da razão, havendo porém lucidez em relação a certos fatos. Coerência em relação a ordem das coisas, e um pouco disso encontramos aqui, nessa transcrição de um dos programas na rádio Jovem Pan, nos primórdios de uma década de 70, época de constestação de valores sociais pré-estabelecidos. Clodovil, pelo visual, adotava as modernidades daquela época, porém não abdicava de uma certa razão em favor a tal modernidade.




A Rádio Jovem Pan deu sinal para começar o programa com Clodovil, que vai ao ar todos os dias, às 11 horas, diretamente de seu escritório. Nêle, Clodovil dá, graciosamente, conselhos sobre moda a ouvintes da capital paulista e do interior. A voz do locutor soa no pequeno escritório, forrado de veludo com desenhos imitando couro de zêbra:
_Bom dia, Clodovil.
_Bom dia.
_ A primeira ouvinte, Iolanda, 25 anos, 1,65 metro de altura, morena, 63 quilos, quer saber: que roupa deve usar no aniversário de sua filhinha de três anos? Vai dar uma festa à noite que terá como convidados mais adultos que crianças. Gostaria de saber também como deve vestir sua filhinha.
Clodovil olha para mim, enquanto ouve, com um olhar de desgôsto. Estampam-se em seu rosto a ironia e a impaciência.
_ Em primeiro lugar, essa senhora está mais preocupada em fazer festa para ela do que para a filha. Está claro que a mãe está querendo é se divertir. Festa de criança deve ser cheia de sorvetes, gritarias, correrias, aquelas coisas que as crianças sabem fazer muito bem, atormentando os grandes. Como deve ser um tormento para uma criança só ver adultos sua festa. Festa à noite, onde vão mais adultos do que crianças, é porque a mãe está louca para se exibir, ou exibir a filha. Que faça a festa durante o dia, que é tempo de criança, tomando o cuidado para não vestir a filha de anão, com sandálias trançadas, botas, saia longa, esse horror que não é nem adulto, nem criança, mas um monstro! Crianças usam sapatos de verniz, laços de fita, golinhas brancas, coisas infantis. Criança vestida de gente grande é uma praga!



Danian.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito Tempo há que a Mentira se Tem Posto em Pés de Verdade afinal os mortos não falam